Viagem de Trem: Trem bão...
por Irineu Nalin Viagem realizada em 13/10/2008. O dólar subiu. Viagem ao exterior ficou mais cara. Que tal curtir uma viagem de trem. A Estrada de Ferro Vitória Minas (CVRD) é o que sobrou, no país, no transporte diário ferroviário de passageiros de longo percurso. Para quem deseja matar saudades do tradicional meio de transporte, embarcar nessa viagem, que no destino BH, parte pontualmente às 7 horas da Estação Pedro Nolasco (seu idealizador) em Vitória, implica estar preparado: no seu inicio para o decepcionante desleixo que margeia o leito da ferrovia com grande quantidade de lixo originado de ocupações irregulares e para uma aventura de fôlego. Apesar de a classe executiva contar com poltronas confortáveis e ar condicionado e de ser proibido nos vagões o consumo de álcool e fumo, suportar mais de 13 horas entre Vitória e Belo Horizonte - 664 km é o principal ponto crítico. Mas, existem outros que poderiam tornar a viagem mais confortável e menos cansativa e que são relacionados a questões operacionais que se melhoradas poderiam compensar a falta de atrativos turísticos do trajeto que segue grande parte o leito do rio Doce, a sua esquerda até Governador Valadares e depois a direita dele. Um rio bastante assoreado com muitos bancos de areia, mas que compensa o visual dos morros pelados que provocam esse processo, contemplando o viajante que passa pela primeira vez. Mata nativa preservada ainda existe sim, na bacia do rio Piracicaba, afluente do rio Doce, depois de passar pelo impacto industrial do vale do aço, muito pouco. Como a manutenção dessa ferrovia está voltada principalmente para a carga de minério (que vai agregar valores e gerar empregos fora daqui) o transporte de passageiros tornou-se apenas uma atividade acessória e obrigatória para servir a população desse trajeto. O turista saudosista de ferrovia terá tempo suficiente para curtir o trem e relaxar, se estiver preparado para ser um observador atento de seus usuários: mineiro quando viaja parece levar a casa junto e sempre com o travesseiro embaixo do braço e aquele seu jeitinho falante de ir chegando de mansinho ocupando lugares que apesar de demarcados acabam não sendo respeitados, no vai e vem, das vinte e seis paradas antes do destino final (entre outras não programadas e não anunciadas). Nisso a bilheteria colabora muito, pois na viagem que fiz concentrou a venda de passagens na classe executiva no vagão E1, separando casais e não priorizando idosos, como determina a Lei; enquanto o E2 e E3 seguiram com poucos lugares ocupados e o E4 seguiu lacrado e vazio. Não tive acesso aos vagões da classe econômica, mas fui informado que a composição tinha ao todo 17 vagões, talvez ai uma das questões relacionadas à sua morosidade (de qualquer forma, uma evolução comparada à velocidade nos primeiros anos de operação, um século antes). Não espere muito do carro restaurante. Nos bons tempos do transporte ferroviário, prevalecia o padrão inglês: exclusividade da primeira classe, toalhas brancas nas mesas e garçons com uniforme branco. Neste, o uniforme é marrom e o serviço é lamentável e, justamente no horário de pico do almoço, muito antes de se aproximar de Valadares o serviço é encerrado para troca de concessionária e retomado muito depois. Resumo: quem não conseguiu mesa antes das 11:30 horas só vai almoçar depois das 14:30 horas. Quanto à qualidade da comida é bom não comentar. Embora o vagão restaurante seja uma tradição nos trajetos longos sua manutenção só se justifica com melhoria do cardápio e do atendimento ou a sua substituição, adotando-se um serviço semelhante ao das empresas aéreas, mesmo porque os carrinhos com bebidas e salgadinhos circulam o tempo todo, uma chateação. Ao aproximar da área metropolitana de BH o sistema de som anuncia a solicitação para fechar a cortina, pois há perigo de pedras atiradas por desajustados, um vandalismo que se espalhou pelo país, mas que felizmente não ocorreu dessa vez. Depois de mais de 30 minutos do horário previsto (19:40 horas) chega-se a restaurada e bonita estação de trem de BH. Uma surpresa: um amontoado de pessoas invade a plataforma e quem desembarca tem muita dificuldade em sair; vão embarcar? Não! Vão receber parentes, oferecer serviços de taxi, etc. FIM DE LINHA. Vai querer aventurar-se nessa? A passagem na classe executiva custa R$61,00, recomenda-se comprá-la com antecedência. No sentido inverso a partida ocorre às 7:30 horas. Vá sim, curtir esse trem e em busca da história de sua existência, movida inicialmente pelo café e depois pelo minério, a qual poderia ser resgatada através de vídeos, pois os exibidos nos vagões são poucos atrativos. HISTÓRICO DA LINHA A E. F. Vitoria a Minas foi idealizada por Pedro Nolasco e aberta em 1904 num pequeno trecho a partir do porto de Vitória e tinha como objetivo principal transportar as culturas da região ao longo do Rio Doce, especialmente a produção de café. Com enormes dificuldades ela foi avançando no sentido da cidade mineira de Diamantina; em 1910, empresários ingleses a compraram para eletrificá-la e transportar minério da região de Itabira, onde haviam adquirido extensas áreas de terra. O seu objetivo passava a ser agora atingir Itabira e se encontrar com a futura linha da EFCB que partindo de Sabará atingiria São José da Lagoa (Nova Era). Isso explica a curvatura de seu traçado. Em 1919 o empresário americano Percival Farquhar a comprou e depois de inúmeras reviravoltas políticas, a estrada, afinal nunca eletrificada, foi encampada pela recém-fundada Cia. Vale do Rio Doce (CVRD) em 1942, a qual maneja a ferrovia até hoje. Modernizou-a nos anos 1940, alterando o traçado acidentado na região de Vitória, isto depois de a linha ter finalmente se ligado à EFCB em Nova Era em 1937, Em 2002, o antigo ramal de Nova Era foi totalmente modificado e a EFVM passou a comandar a linha desde Vitória até a região de Belo Horizonte, depois de passar por Itabira, região do minério de ferro. É a ferrovia mais rentável do Brasil e uma das pouquíssimas ferrovias a manter no País até hoje os trens de passageiros. (informações históricas obtidas na Internet e que poderiam fazer parte de um prospecto, com o trajeto, horário, paradas e outros dados de interesse turístico das localidades a ser distribuído pela CVRD aos passageiros interessados) Mais informações históricas importantes, veja em: http://www.asminasgerais.com.br/rio_doce/tecer/efvm/area.htm
Algumas Fotos
Vista de Vitória Plataforma de embarque na Estação Pedro Nolasco em Vitória Vagão Executivo E1 Rio Doce, bancos de areia e morros pelados Trecho em que a água dá lugar ao leito de pedras Fazendo a curva Estação de Trem de Belo Horizonte Praça da Liberdade, BH
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