Mochilão - Bolivia - Peru
Viagem feita por: Luis Natividade em Janeiro de 2010 São Paulo – La Paz Duração: 3 dias Minha viagem dura quase 3 meses e começa na rodoviária de São Paulo. Na verdade começou muito antes, cerca de um ano, quando comecei a pesquisar sobre o Peru. Iria acabar a universidade no final de 2009 e em no começo de janeiro de 2010, parti – meio que sem destino – para cruzar o Peru, talvez chegar ao Equador e Colômbia, e quando os recursos estivessem acabando, tomaria um barco nos Andes, descendo a planície amazônica até a cidade de Manaus e retornando a SP por ar. Como toda viagem, a saída era carregada de incertezas. Não reservei nenhuma hospedagem, passeio ou passagem. Apesar de ter ficado meses pesquisando lugares, montanhas, roteiros, hospedagens, relatos, enfim. Por mais que o planejamento seja “completo”, sempre haverá aquele frio na barriga, de se deparar com o desconhecido (questão da língua, segurança, etc.). Eu não tinha nem a data que eu iria voltar, poderiam ser de 2 meses até um ano. Meu irmão e eu saímos da rodoviária da Barra Funda (São Paulo), numa segunda-feira, meia noite, com destino a Campo Grande. No caminho, já pela manhã, o primeiro imprevisto, inesperado. Que vem a calhar, com aquela estória de se planejar a viajem e durante ela, ter que modificar os caminhos. Recebemos uma mensagem da nossa mãe avisando que acabara de ver na TV que os caminhos para Machu Pichu estavam fechados e haviam centenas de turistas isolados na área. Que havia danificado as vias de transporte e não havia data para reabrir as visitas. Aí já começou a primeira dúvida: vamos para Cuzco e região do Vale Sagrado ou para Arequipa, fazer as caminhadas até o cume do vulcão El Misti e o caminho do Canion Del Colca? Chegamos em Campo Grande por volta das 14 horas e decidimos viajar até Corumbá, divisa com a Bolívia, durante a madrugada, para economizar na hospedagem (nosso destino era La Paz o quanto antes). Andamos pela cidade, uns parques e botecos. Tomamos uma ducha na rodoviária, por R$ 7,00. De preferência fria para aliviar o calor. Lugar limpo e recomendável. O ônibus deixou Campo Grande por volta da meia noite. Pela manhã, quando o sol apareceu, já estávamos no pantanal sul mato-grossense. Uma belíssima paisagem, alagados, aves, árvores. Natureza espetacular! Alguns ônibus que fazem esse trajeto Campo Grande – Corumbá fazem a linha até o lado boliviano da fronteira, cerca de 20 minutos depois do terminal rodoviário de Corumbá, cidade chamada Puerto Quijaro. Para os brasileiros é necessário Carteira Internacional de Vacinação, expedida pela Anvisa. Carteira de Vacinação Municipal não vale, e você é obrigado a retornar à Corumbá, no posto da Anvisa, para que a mesma faça o documento exigido. Além disso, a vacina cobrada – Febre Amarela – precisa ser aplicada no mínimo dez dias antes de cruzar a fronteira. Como não tínhamos a carteira da Anvisa, fomos obrigados a retornar até Corumbá com um ônibus (R$ 2,00 – taxi seriam uns R$ 20,00). Conseguimos chegar antes do meio dia, quando a agência fecha para o almoço e só reabre as 14 horas. Quando retornamos para o posto de controle boliviano, na fronteira, trocamos nossos reais (valorizados) por “bolivianos”. Tomamos uma ducha num fundo duma casa (tirar o pó e aliviar o calor) e fomos até a rodoviária, com um taxi ali no posto de serviço (15 bolivianos = 5 reais). (Posto de Controle Boliviano – Fronteira Brasil (Corumbá) com a Bolívia (Perto Quijaro) Foto: Luís N. Resolvemos ir de ônibus até Santa Cruz de La Sierra, erro! Como era período de chuvas – janeiro - e a estrada de 1.400 km não está asfaltada por completa (estão em obras para concluir). Saímos às 14 horas de Puerto Quijaro, para chegar em Santa Cruz, por volta das 8 horas da manhã seguinte, quinta-feira. Quando era por volta da meia noite, cruzando o pantanal boliviano, o ônibus atolou na terra, ou seria uma piscina? Ficamos parados a noite, no meio do pantanal, um baita calor, todos os vidros abertos, no meio do nada, tudo escuro e o pior: com muitos pernilongos. Fizeram a festa. Fui devorado, costas, pernas e braços (centenas de picadas). Pela manhã todos os homens saem do ônibus para juntar pedras e fazer o ônibus desatolar. Um pouco mais a frente pegamos outra fila de ônibus parados. Mais uma hora juntando pedras (mais de 100 pessoas) e a estrada estava liberada. (Raspadinha em Puerto Quijaro para amenizar o calor – Bolívia) Foto: Luís N. (Caminhões atolados no trecho Puerto Quijaro até Santa Cruz de La Sierra) Foto: Luís N. Chegamos em Santa Cruz apenas 14 horas da quinta-feira, 22 horas depois de haver saído da fronteira, Puerto Quijaro. Naquela hora qualquer ducha estava valendo. Naquela situação não podíamos reclamar do banho da rodoviária de Santa Cruz, que nos últimos anos vem se modernizando e melhorando o serviço (rodo-ferroviário). A dica é tentar planejar a viagem para ir com o trem. Há saídas quase que diárias, se não me engano, dia sim, dia não. Também há opções de trens. Comemos por lá e saímos às 17 horas para La Paz. Na Bolívia, assim como Peru, os ônibus que fazer trajetos maiores que 6 horas, viajam apenas durante a madrugada. Tivemos mais um imprevisto durante a madrugada. Depois de haver parado em Cochabamba por volta das 22 horas (nem vi Cochabamba, estava tão exausto que apenas babava), desceram alguns passageiros, dentre eles um gente fina que levou a blusa do meu irmão e minha que estava em cima quase que de nossas cabeças, no local de colocar as malas de mão. Quem conhece sabe que o caminho de Cochabamba até La Paz é desbravando a cordilheira dos Andes, morros e precipícios acima, quanto mais alto, mais frio! Quanto mais o ônibus andava, mais frio passávamos, apenas de calça e uma camiseta no corpo. Às 6 horas da manhã de sexta estávamos no altiplano boliviano, respiração controlada, profunda, para amenizar os efeitos perceptíveis da atitude (e por que não esquentar o corpo também?). Descemos em La Paz, às 8 horas da manhã de sexta feira. Três dias depois de sair de São Paulo, na madrugada de segunda para terça-feira. A primeira coisa que fizemos foi comer uma deliciosa salteña, uma espécie de esfiha fechada, assada, recheada de carnes, molho e temperos (foto). A rodoviária fica próximo a zona central da cidade, local de comércio, serviços e hospedagens. Eu já conhecia La Paz, da vez que fiz a viajem para Argentina (Missiones e Norte Argetino)-Bolívia. Tinha ficado no hostel El Caretero, lugar de mochileiros do mundo todo e claro: maioria argentina. Pagamos R$ 20,00 o quarto com duas camas. Conhecemos de cara algumas pessoas e nessa brincadeira acabamos ficando 20 dias em La Paz, no Hostel El Caretero, passeando todo dia para alguns locais da cidade, sejam loja de artesanatos, comedores municipais, mirantes (La Paz tem vários, pois é uma cidade privilegiada de visuais, já que a cordilheira está muito próxima e a cidade é construída sobre os morros e declives). (Salteñas Bolivianas – Uma explosão de sabor) Foto: Luís N. Hostel El Caretero em La Paz. Em La Paz há vários passeios pela região. No aspecto arqueológico, a grande opção é Tihuanaco (80 km de La Paz), onde várias agências de La Paz organizam um tour de um dia até as ruínas. Cidade que acreditam possuir mais de 10.000 anos, imperdível. Meu irmão e eu não fomos. Fizemos o passeio até a antiga estação de esqui, Chacaltaya, situada a 5.300m do nível do mar, que atualmente serve de abrigo para aclimatação para as pessoas que irão escalar a cordilheira de La Paz, com suas dezenas de montanhas e opções. Contratamos o serviço junto à agência do Hostel Torino (diárias na casa dos R$ 20,00), super recomendável para se hospedar também. Custou-nos R$ 20,00 pelo transporte até o refúgio do Chacaltaya. Quando fomos havia muita neve, e tivemos que caminhar cerca de uma hora pela neve até o abrigo. Nessa hora fez muita falta foi um óculos escuro para proteger do reflexo do sol na neve, pois o efeito é violento e muitas partes tive de caminhar com os olhos quase que fechados. Nesse dia me alimentei melhor pela manhã antes de entrar no ônibus que nos leva até o abrigo. Também levei um saquinho de folhas de coca para aliviar os efeitos da altitude. Esse passeio vale muito a pena, é possível se observar várias montanhas da cordilheira, todo o vale que está a cidade de La Paz, como também uma boa parte do altiplano boliviano e uma parte do lago Titicaca. Na volta para La Paz, por volta das 14 horas, o ônibus também passa num ponto turístico interessante, um parque de formação geológica sedimentar, com aspectos bizarros. Vale a pena conhecer, caminhar dentro do parque e tirar fotos. Esse parque, Vale da Luna (Lua), custa cerca de R$ 10,00 e é indicados aqueles que apreciam observar formas de relevo. (Mirador Kili Kili, um dos muitos que existem em La Paz) Foto: Luís N. (Caminho para estação desativada de esqui Chacaltaya – 5.300m – La Paz) Foto: Luís N. (Júlio meu irmão, Marcos e eu no Vale da Luna, La Paz) Outro passeio para quem gosta de aventuras e dura apenas um dia é o downhill de bicicleta até Coroico, cidade cerca de 100 km de La Paz. O preço é um pouco mais salgado, cerca de R$ 100,00. Inclui café da manha em La Paz, transporte, aluguel da bike, calça, jaqueta, capacete. Lanche durante a descida e no final o grupo para em um restaurante onde está incluso um almoço, com direito a mergulho numa piscininha muito esquema, uma delícia de lugar. O ônibus sai de La Paz por volta das 8 da manha. Sobe a cordilheira e deixa o grupo começar a descida de uma altitude de 4.800 metros. Depois de meia hora de descida no asfalto o grupo entra na van, que transporte todos alguns quilômetros acima. Desse ponto em diante é apenas por trecho de estrada de terra, na conhecida Ruta de La Muerte. Um abismo do lado esquerdo de quem desce a estrada é a razão dessa fama toda. Há necessidade de tomar cuidados redobrados, principalmente nas curvas com tangencia para o abismo. Do contrário é muita aventura, vento na cara, adrenalina rolando. As bikes variam de agência para agência, por isso procure as melhores bikes, nem que o preço seja mais que R$ 100,00. Alguns reais a mais farão toda uma diferença. Fui numa agência mais barata, depois duma noitada forte em La Paz e minha bike quase que não tinha freio. Não vale a pena! São cerca de 60 km de descida que vai dos 4.800m até 1.800 metros acima do nível do mar. Dentro das cabeceiras da Amazônia boliviana, com uma vegetação completamente diferente da cidade de La Paz, mais quente e úmida. (Vista panorâmica da Ruta de La Muerte – Coroico) Foto Luís N. (Detalhe de um trecho da Ruta de La Muerte) Foto Luís N. Atenção veja a segunda parte do relato Aqui
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