Estrada Real De Bicicleta

por: André Alécio C. Rodrigues Viagem feita de 26 de dezembro de 2004 até 19 de janeiro de 2005 pela Estrada Real e Rodovia Rio - Santos. Tudo começou quando li relatos de cicloturistas pela internet. Sempre gostei de andar de bike e faço ecoturismo desde os meus 16 anos, então fui planejando fazer uma grande viagem de bike e escolhi fazer a Estrada Real desde Diamantina - MG até Paraty - RJ. Durante um bom tempo estudei os roteiros e comprei os equipamentos necessários para a viagem, como os alforges, que são bolsas especiais que se prendem ao bagageiro da bicicleta. Nem tudo na viagem saiu como o planejado. Acabei em alguns momentos pegando ônibus para evitar desgastes físicos e também adiantar a viagem, mas tudo foi ótimo e mesmo por ter optado em fazê-la sozinho, acabei encontrando outros cicloturistas pelo caminho, isso foi um grande incentivo para não desistir do sonho e também algo que animou e muito a viagem. DIÁRIOS DE BICICLETA DIA 26/12/2004 Escolhi um dia ruim para encarar o terminal rodoviário do Tiete em SP, pois é final do feriado de Natal e logo a maior rodoviária da América Latina está lotada de gente indo para todos os lados do Brasil. Eu e minha bike (na caixa, é claro) encaramos a multidão e embarcamos no ônibus da Gontijo rumo a Diamantina as 20:30, mas não antes dos responsáveis em colocar as bagagens no ônibus me sacarem mais 25 reais, dizendo que bicicleta tinha taxa extra de embarque. Após este abuso me desloquei para a poltrona 32 onde já estava sentado ao lado um simpático senhor, que também estava indo pra Diamantina para visitar seus parentes. Foi bom tê-lo como parceiro de viagem, pois tivemos bons papos. Depois de uma boa prosa, uma noite não dormida e 14 horas de viagem, enfim chego em Diamantina. andre02.jpg DIA 27/12/2004 - DIAMANTINA Chego em Diamantina e antes de tirar minha bike do ônibus vejo a Cristina montando sua bike. A Cristina também é mais uma aventureira que vai fazer a Estrada Real, assim como eu, e mais 14 pessoas de Curitiba. A diferença é que eles vão até Ouro Preto e eu pretendo chegar em Paraty. Depois de ficarmos quase uma hora montando as bikes na rodoviária fomos dar umas voltas pela cidade, que tem suas ruas de pedra, o que dificultou muito nossas pedaladas, pois além do peso das bikes, tivemos que encarar ruas irregulares e morros íngremes. Procuramos uma pousada e ficamos hospedados no Hotel Santiago, próximo a rodoviária. A tarde passeamos a pé pela cidade e comemos deliciosos pasteis. A cidade é muito bonita com seus casarios históricos, aconchegantes e belos, bastante gente nas ruas, muitos turistas e dezenas de igrejas do tempo colonial, enfim, um charme de lugar. Fomos descansar no hotel, que é muito bacana, com tv no quarto e tudo mais. andre08.jpg andre03.jpg Rua da Gloria (Diamantina) andre04.jpg Cristina e eu em Diamantina DIA 28/12/2004 - DIAMANTINA - SERRO - 28km pedal e 50km carona Acordamos cedo e fomos falar com o pessoal de Curitiba, que por causa de um congestionamento atrasaram 20 horas. Conversamos com o pessoal que era muito gente fina e eles falaram que partiriam no dia seguinte. Eu e a Cristina decidimos partir hoje mesmo até Milho Verde, depois ela esperaria o grupo por lá. Saímos em direção a Milho Verde por volta das 9:30 da manhã e logo no inicio pegamos uma grande descida, mas depois uma subida enorme apareceu, era longa e íngreme. Depois pedalamos pelo topo das montanhas, onde o visual era lindo, muitas pedras e montanhas pra todos os lados, passamos por uma cachoeira bem bonita. andre01.jpg No Inicio da viagem fomos contemplados por esta bela cachoeira. A Cristina se cansava muito, disse não estar preparada para tantos morros íngremes. Depois de um tempo nuvens negras e relâmpagos começaram a me preocupar, pegamos nossas capas de chuva, e para piorar a corrente da bike da Cristina caiu e enroscou, depois de meia hora conseguimos tirar a corrente. O céu estava ainda mais negro e logo chegamos ao vilarejo do Váu, onde ficamos alojados na varanda de um barzinho, esperando a chuva cair. Raios caíam próximos fazendo um poste de força soltar faíscas, chegou a dar medo, mas a chuva acabou não caindo e a gente voltou a estrada. Um quilometro a diante, a corrente da bike da Cristina voltou a cair e não teve mais jeito de desenroscar. Pegamos uma carona em um caminhão de bebidas, que por sorte passou. Batendo um papo com o Mauricio, o motorista, resolvemos ir com ele à cidade de Serro. De caminhão vimos visuais lindos da região, passamos por São Gonçalo do Rio Das Pedras, um vilarejo bem simpático e bonito, depois Milho Verde, onde paramos para descarregar umas caixas de cerveja. Eu aproveitei para bater um papo com 2 hippies, bem gente fina, que estavam por lá. Chegamos em Serro às 19 horas e nos hospedamos na pousada Vila do Príncipe, uma casa colonial de 300 anos, a qual serviu de morada para um barão. A pousada tem móveis da época bem conservados, foi uma volta ao passado. A noite, eu e a Cristina fomos conhecer o centro histórico e aproveitamos para jantar e beber uma cerveja. DIA 29/12/2004 - SERRO - CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO - 66 km pedalados A Cristina resolveu voltar pra Goiânia. Fiquei chateado por ela, mas disse que estava tranqüila, pois não daria pra continuar, não agüentaria tantos morros. Ela me ajudou a montar os alforges na bike e eu parti por volta das 8:30. O tempo estava nublado e antes já havia caído uma boa chuva, mas esta resolveu não me acompanhar. Hoje foi um dia mais tranqüilo apesar da distancia, não tem tantos morros íngremes quanto no trecho de ontem, a estrada é de terra, mas em boas condições. Logo cedo passou por mim, um grupo de motocross em alta velocidade. Pedalei bastante até chegar no distrito de São Sebastião do Bom Sucesso, onde tomei um guaraná e conversei com uns garotos da cidade. Depois foram mais 14 km até Conceição, onde cheguei as 4:30 da tarde e me hospedei no hotel Bom Jesus, onde conheci uma família bem legal de BH. Falamos sobre a Estrada Real, peguei algumas dicas sobre o caminho e me convidaram para comer pastel de angu, uma comida típica aqui da região. A noite jantei no hotel uma comida feita no fogão a lenha, uma delícia. Fui dormir cedo, pois amanhã vou pra Morro do Pilar. Decidi não ir para a Cachoeira do Tabuleiro, pois já a conheço, assim ganho uns dias de viagem. andre07.jpg Vista do distrito de São Sebastião do Bom Sucesso DIA 30/12/2004 - CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO - MORRO DO PILAR - 30 km Acordei cedo, tomei café, despedi-me do pessoal do hotel e sai as 8:30 horas, rumo a Morro do Pilar. Logo no inicio 3 km de subida asfaltada pra animar, depois só estradinha de terra, cheia de morros grandes e íngremes e em estado bem precário. Esta estrada é secundaria, se eu fosse pegar a estrada normal, onde os carros utilizam, pegaria 70 km, então o atalho aqui foi grande, mesmo assim tive que empurrar a bike nos morros íngremes. Além disso os alforges estão muito pesados, dificultando muito as minhas pedaladas. Na estrada não encontrei ninguém, foram poucos carros que passaram por mim. Não vi casas, nem nada, encontrei apenas cavalos, bois e vacas. Não sei porque sempre acho que eles vão vir pra cima de mim, então pego um pedaço de pau e vou batendo no guidão da bike pra fazer barulho, daí eles saem da frente. Cheguei em Morro do Pilar às 13:30 horas. Almocei um pf em um restaurante da cidade por 5 reais, em quase todos os lugares que comi até agora, o preço foi este e todos bem caprichados. Depois de bater um papo com os turistas e com o dono do restaurante fui conhecer a Cachoeira do Lageado, bem bonita e com muita gente. Pensei em acampar por lá, mas como estava sozinho não achei muito seguro. Voltei a cidade e me hospedei em uma pousada por 15 reais (em todos os lugares em que me hospedei até agora, o preço foi este com café da manhã, apenas em Conceição que o preço foi 10 reais). Na praça da cidade encontrei um senhor muito simpático, seu Miguel, batemos um bom papo sobre a Estrada Real e ele me convidou para tomar café em sua casa. Achei bem legal a hospitalidade deste senhor e de todos que estou conhecendo na viagem, sempre alguém está disposto a me ajudar. A noite conheci um pessoal que trabalha com caminhão e eles me ofereceram uma carona para Serra do Cipó, estudei os mapas e acabei achando melhor não ir, pois teria que desviar muito o caminho para Ouro Preto. andre06.jpg andre05.jpg 31/12/2004 - MORRO DO PILAR - ITAMBÉ DO MATO DENTRO 38km pedalados Acordei com a algazarra das maritacas e 8:30 já estava na estrada tendo como companhia um sol bem forte desde cedo. A estrada começou plana, até demais pro meu gosto, foram uns 10 km num terreno praticamente plano, com um rio acompanhando -me durante todo o tempo. Mas depois as subidas começaram, o pessoal aqui de minas, num tem muita noção do que é morro e do que é plano, me falaram que não teria muitos morros neste trecho, mas vi que eles estavam enganados, pois foi um trecho bem íngreme da viagem. Algumas subidas tinham 3km. Dai não teve jeito, o negócio era descer e empurrar a bike. Peguei um altiplano e encontrei um senhor andando com seu burrico, fomos batendo um papo até ele descer para sua fazenda. Hoje também levei o meu primeiro capote na Estrada Real, foi depois de um grupo de motocross passar por mim , me distrai e a roda da frente escorregou nas pedras, cai. Ainda bem que não me machuquei, fiquei apenas preocupado com o meu joelho, pois na queda ele sofreu um impacto e como ontem fez 6 meses da minha operação no ligamento, acabou doendo um pouco. Passei pelas pedras onde mora Seu Domingos, um eremita aqui da região, mas eu não o vi. As paisagens de hoje foram bem bonitas, era morro a se perder de vista. Minha água acabou e depois de um tempo achei um fio de água, abasteci as garrafinhas em uma pocinha que havia até girino nadando, além disso a água estava quente, por sorte não demorou muito para eu encontrar água boa, mesmo assim coloquei Hidrosteril para purificar a água. Cheguei em Itambé ás 2 horas da tarde e fiquei em um camping bem bonito. Acho que é o camping mais chique que eu já me hospedei em toda vida. Custa 10 reais por dia e como vou ficar 2 dias por aqui. Acabei pagando 15 reais, pois disse que estava viajando pela Estrada Real de bike. Sempre faço isto e o pessoal me dá desconto. Tem uma galerinha aqui no camping, mas até agora não fiz nenhuma amizade, amanhã vou dar uns roles de bike pelas cachoeiras da cidade, que tem várias e algumas são perto. A bike sem alforges está parecendo um foguete. NOITE DE ANO NOVO Não tive muito o que fazer por aqui, fui ao barzinho do camping onde tinha um cara tocando violão e cantando. Até que estava legal, tomei uma cerveja e uma caipirinha pra comemorar o ano novo. Deu meia noite, vi uns fogos e fiquei do lado de fora da barraca, olhando as estrelas e ouvindo musica no meu radinho - a trilha sonora era um bom e velho rock progressivo. No céu tinha uma lua grande, fiquei olhando pra ela e pensando em tudo e em todos os amigos e parentes que deveriam estar também acordados, comemorando o começo de um novo ano, então, um feliz 2005 para todos. DIA 1/1/2005 - ITAMBÉ DO MATO DENTRO Hoje logo cedo já fui pra Cachoeira do Lucio, a mais próxima da cidade. Ela tem uns 8 metros e é bem bonita, com um poço para nadar e uma prainha. Cheguei lá e estava sozinho, quando apareceu o pessoal do camping, uma galera bem gente fina da cidade de Santa Luzia, perto de BH. Ganhei deles uma latinha de cerveja e ficamos batendo um papo . Voltei pra cidade e avistei as montanhas aqui da região, que são muito bonitas. Chegando no camping fui convidado para almoçar junto com o pessoal de Santa Luzia, depois jogamos um jogo de caça palavras. Fui para o centrinho da cidade ver a posse do prefeito, que se elegeu com 800 votos e que era chapa única, ouvi dizer também que iria rolar uma grande cervejada com show ao vivo e tudo mais, realmente a cidade toda estava por lá, mas cerveja de graça eu num vi, acho que cheguei cedo demais. Voltei para o camping e começou uma bela chuva. A noite joguei truco com os amigos de Santa Luzia, eles jogam truco diferente do que é jogado no interior paulista. Achei engraçado e todos me pediram para mostrar o jeito que se joga em SP. Jogamos um pouco e fomos dormir. Eu decidi ir de ônibus até Barão de Cocais e o ônibus sai as 6:30 da manhã, então vou ter que acordar bem cedinho para arrumar as coisas. andre11.jpg Cachoeira do Lúcio DIA 2/1/2005 ITAMBÉ - BARÃO DE COCAIS ( ônibus) BARÃO - CATAS ALTAS 30km pedal Quase não dormi e sai correndo para não perder o ônibus, cheguei lá e coloquei a bike no bagageiro com alforge e tudo, ninguém falou nada, nem cobraram nada a mais, paguei 8 reais e fui embora. Para minha surpresa, quando o ônibus passou pela cidade de Ipoema subiu nele o casal Alexandre e Rita, que fizeram todo este trecho da Estrada Real desde Diamantina a pé. Conversamos sobre nossas viagens e nos despedimos, eles falaram que encontraram com mais 2 cicloturistas, que também estão fazendo a Estrada Real até Paraty, o Zé Renato e o Adriano, que são de Goiânia. Cheguei em Barão dos Cocais, enchi os pneus da bike e sai pedalando até Catas Altas. Estava pedalando, quando encontrei Seu Jorge com sua bike, com retrovisor e farol dínamo. Descobri que ele estava indo para Santa Bárbara, uma cidade próxima a Catas Altas. Fomos pedalando juntos e batendo um papo pela estrada, subimos um belo morro de uns 2 km, mas como agora é tudo asfalto, nem precisei colocar a corrente na coroa menor e Seu Jorge seguia firme e forte com sua Barra Forte sem marchas. Certa hora bebi um gole de água da minha garrafinha e ofereci a Seu Jorge, este me respondeu: - Obrigado garoto, mas acabei de tomar uma cachacinha. Achei engraçado, dei risada e falei: - É, de vez em quando faz bem. E ele também riu. Cheguei em Catas Altas acompanhado de uma serra muito alta, que faz parte do Parque do Caraça. Andei pelo centro e depois de muito perguntar descobri que há um camping a 3 km da cidade. Cheguei no camping, muito belo por sinal, com uma lagoa enorme e do outro lado se avista a Serra do Caraça, um morro enorme com muitas pedras, há nuvens em seu pico tornando - o ainda mais belo. Hoje, ainda não vi o sol, isso me ajudou muito com as pedaladas, só espero que não chova. Vai rolar um show de forró, aqui no barzinho do camping. Tem muita gente por aqui, porém acampando, só eu. Aproveitei pra nadar na lagoa e bater um papo com uns garotos aqui da cidade mesmo. O forró acabou ás 9 horas da noite, depois fui conversar com o dono do barzinho, que não me cobrou nada pelo camping. andre12.jpg Igreja Catas Altas andre10.jpg DIA 3/1/2005 - CATAS ALTAS - OURO PRETO 30 km pedal o resto ônibus Saí de Catas Altas ás 8:30 horas, pedalei sempre acompanhado da Serra do Caraça, que continuou com nuvens em seu pico. Passei por muitas subidas e depois de estar cansado e tomar muito sol na cabeça, cheguei a uma empresa e encontrei alguns rapazes na estrada, perguntei se eles estavam esperando o ônibus e eles disseram que iam pra Mariana. Sentei e esperei o ônibus com eles, quando chegou descobri que o “busão” ia passar em Ouro Preto. Não tive duvidas e entrei no ônibus lotado e fui sentado na escada, ao lado do motorista, paguei 7 reais pelo ônibus (com a bike no bagageiro). Cheguei em Ouro Preto e fui direto retirar grana no banco Real. Desde Diamantina é o primeiro lugar que eu encontro o banco. hospedei-me no albergue da juventude e conheci Maximiliano, um rapaz alemão de 20 anos, que esta viajando pela América Latina, veio do Rio de Janeiro e falou que esta indo pra Manaus. Saímos juntos para conhecer a cidade de Ouro Preto, que é bonita, com muitas igrejas e calçamento de pedras, reparei nos muitos turistas estrangeiros que vem visitar a cidade. Bebemos uma cerveja e conversamos bastante, ainda bem que Maximiliano fala espanhol, assim deu para nós conversarmos bem. Chegando no albergue conheci mais outro viajante estrangeiro o Jord, que é espanhol. Estávamos batendo um papo, quando chegou Marcelo, um paulista que esta indo para Diamantina, aproveitei e dei umas dicas de pousadas da região. Conheci também um casal de SP, que esta viajando de jipe por MG, dei algumas dicas sobre a Serra do Cipó para eles também. andre09.jpg Saindo de Catas Altas DIA 4/1/2005 - OURO PRETO Acordei cedo e logo no café fui convidado pelo casal Carlos e Silvia para ir a Lavras Novas no seu jipe Land Rover com GPS e tudo mais. Foi conosco também o Jord, que é um espanhol gente fina. Fomos para Lavras Novas por uma trilha de jipeiros, assim deu pra sentir o gostinho de como é fazer uma trilha de jipe. Chegamos na cidade, que fica em cima das montanhas com casas muito simpáticas e bem tranqüila, ficamos lá por umas 2 horas, acabamos não indo as dezenas de cachoeiras da região, mas valeu a pena conhecer a cidade. andre13.jpg Jord, eu, Carlos e Silvia em Lavras Novas andre18.jpg Vista da cidade de Lavras Novas Retornando pra Ouro Preto, fui até a rodoviária comprar passagem pra Itutinga. Resolvi fazer este trecho de ônibus, assim adianto a viagem e fujo dos morros até Ouro Branco e do trânsito nas estradas aqui da região. Descobri que teria que colocar a bike novamente em uma caixa, fui até uma bicicletaria e arrumei a caixa por 3 reais. Decidi pegar o ônibus amanhã às 19 horas para Itutinga, assim dá pra descansar e conhecer mais um pouco de Ouro Preto. Hoje chegou aqui no albergue algumas garotas que estão prestando vestibular para a faculdade de Ouro Preto, batemos um papo e fizemos uma macarronada comunitária, participaram do jantar também 2 suíças, uma delas tem os olhos mais lindos que eu já vi. As meninas Lis, Patrícia, Mariana e Bia estão prestando vestibular para artes cênicas e estão muito apreensivas com os testes, quase não conseguem falar em outra coisa. De noite o Albergue ficou animado todos batendo papo e ouvindo um som. Bebi uma cachaça mineira com o pessoal, na noite passada experimentei a famosa cachaça Salinas, até hoje foi a melhor que eu bebi. Chegou aqui no albergue mais um alemão, o Jorge, bom pelo menos este foi o nome que ele disse pra gente pronunciar, ele é mais um viajante solitário e bem gente fina, como todos por aqui. Fui convidado por mais um garoto, que esta prestando vestibular, para conhecer a vida noturna de Ouro Preto, saímos e conhecemos mais uns jovens, que estão prestando vestibular. andre15.jpg Vista do Albergue da Juventude andre14.jpg Jantar comunitário com as meninas no albergue DIA 5/1/2005 OURO PRETO - ITUTINGA - ônibus O dia amanheceu chuvoso e no café me despedi do casal Carlos e Silvia, que estão indo rumo a Serra do Cipó, sem antes de dar mais algumas dicas das estradas da região. Conheci também aqui no albergue o Cláudio, que esta vindo de Paraty e passou por São Tomé, dai foi a minha vez de pedir algumas dicas. Desmontei a bike e coloquei na caixa, aproveitei para encaixotar o resto das minhas coisas. O Jorge me convidou para uma cerveja aqui mesmo no albergue e ficamos ouvindo seus cds de blues. A Bia chegou da prova e fez companhia para eu, Jorge e Claudio, Aproveitei e almocei frangos com batatas feitos pelo Jorge, muito bom por sinal. No resto da tarde fiquei conversando e assistindo tv, na tela Trapalhões com Mussum, Zaca, Dominó, Gugu e companhia. Fui pra rodoviária e o Cláudio me ajudou a levar as minhas coisas, ainda bem que é perto, mas o morro é que deu canseira. Peguei o ônibus e cheguei em Itutinga mais de meia noite de baixo de chuva, montei a bike com a ajuda do Tiago, dono do único barzinho aberto aquela hora na cidade. A minha idéia era seguir para Carrancas de madrugada mesmo, mas com aquela chuva não teria como, então fiquei no barzinho e quando o Tiago ia fechando o bar me convidou para dormir por lá mesmo. É claro que eu aceitei joguei meu saco de dormir e mais um que o Tiago me emprestou, no chão mesmo e dormi por ali ao som da chuva. DIA 6/1/2005 - ITUTINGA - CARRANCAS 27 km pedalados Acordei cedo e a chuva acabou, agradeci o Tiago por ter me deixado dormir em seu barzinho, tomei café em uma padaria da cidade e sai pedalando até Carrancas. Foi um pedal tranqüilo, com poucos morros fortes, apenas a subida da serra de Carrancas, que trás um pouco de canseira, mas de resto é bem agradável pedalar nesta estradinha. O dia estava nublado e a estrada com bastante lama, o pior trecho é onde estão preparando a estrada para asfaltá-la, os tratores mechem na terra e ela fica fofa com a chuva transforma-se em um atoleiro, tive que pedalar um trecho de uns 500 metros assim, era lama pra todo lado, fui bem devagar para não cair na lama. Na subida da serra de Carrancas fui parado por 2 jovens que estão fotografando a Estrada Real para o site estradareal.org , eles tiraram algumas fotos minhas pedalando na serra ( agora vou ficar famoso). Depois da subida, que tem um dos visuais mais incríveis de toda a viagem, uma garoa me pegou, obrigando-me a colocar a capa de chuva, pela primeira vez usada na viagem. Desci a serra e chego no Camping da Toca e converso com o proprietário, o Seu Marcelo, que fez a primeira expedição pela Estrada Real a cavalo. Aqui em Carrancas me sinto em casa, pois é a quinta vez que estou aqui. A tarde fui na casa do Aroldo e da Bruna, um casal muito bacana que conheci aqui uma outra vez que vim acampar. Eles também estavam acampando e gostaram tanto da cidade que resolveram morar aqui já faz 4 anos. Fiquei lá na casa deles a tarde toda conversando e eles me convidaram pra almoçar por lá amanhã. Hoje é niver da minha vó tentei falar com ela, mas não consegui, então parabéns pra vovó Roza. andre17.jpg Foto na serra chegando em Carrancas DIA 7/1/2005 - CARRANCAS Acordei e fui na cachoeira do moinho com 2 amigos que conheci aqui no camping. Fiquei lá umas 2 horas e depois fui na casa do Aroldo almoçar. Estavam por lá também os pais da Bruna, um casal muito simpático. Comemos uma comida deliciosa e conversamos muito, no fim da tarde fui dar um mergulho no poço do coração e voltei para o camping, que esta mais vazio do que antes. A chuva começou e eu fiquei trancado na barraca até o dia seguinte. DIA 8/1/2005 - CARRANCAS Mandei algumas roupas minhas pra lavar, pois estavam muito sujas, eu sempre lavo, mas acabaram ficando encardidas. Sai com a bike para fazer algumas trilhas pela região e ver as cachoeiras, na volta encontrei a Patrícia, uma jovem de SP, que esta viajando sozinha, ficamos conversando nas pedras ao lado de um pocinho, depois fomos almoçar juntos, vimos até um tucano voando, uma cena muito bonita. Almoçamos no Restaurante da Toca e fomos ao centrinho para comer pão de queijo, mas já havia acabado, então tomamos um sorvete para compensar e ficamos andando pela cidade a tarde toda. Foi legal, eu já estava me sentindo sozinho, foi bom ter a Patrícia como companhia neste dia. Fui dormir cedo, pois amanhã são mais 70 km de pedal até São Tomé. DIA 9/1/2005 CARRANCAS - SÃO TOMÉ DAS LETRAS 73 km de pedal Acordei arrumei as coisas e sai desta vez mais tarde que de costume eram 9:40 quando deixei o Camping da Toca. Passei pelo centrinho e peguei uma estrada de terra até a estação de Carrancas. O visual da estrada é bem bonito, cheio de montanhas e de longe deu pra ver a Cachoeira Véu de Noiva em Carrancas. Depois de passar pela estação de Carrancas peguei uma estrada alternativa até São Tomé, onde cheguei pelo vilarejo do Sobradinho, me falaram que a estrada tinha 50 km, mas no final deu 73 km. Em muitos lugares foi assim, as pessoas sem maldade acabam falando que é perto, ou que é tudo plano, e quando você vai ver é super longe ou tem muitos morros, por isso temos que confiar nas pessoas que já passaram de bicicleta pela estrada, pois quem passa de carro não nota muito se tem subidas, ou as distâncias. Peguei os 73 km com sol forte e também com algumas garoas de verão, mas que nem me obrigaram a colocar a capa de chuva. andre21.jpg Vista de São Tomé das Letras Na estrada, certa hora bati palma em uma das poucas casas que encontrei no caminho, para ver se estava realmente indo pro caminho certo, foi quando apareceu Dona Lurdes, uma senhora muito simpática, que na hora já foi me convidando para entrar, também conheci seu esposo, o Seu Cleber, os dois muitos simpáticos e prestativos. Comi batatas fritas e refrigerante e de sobremesa um delicioso doce de leite feito por Dona Lurdes, uma delicia. Despedi-me e sai pedalando, pois ainda estava muito longe do meu destino. A estrada vai passando por inúmeras fazendas e plantações de milho. Hoje tive meu primeiro encontro selvagem de toda a viagem, estava pedalando e olhando as montanhas ao meu redor, quando olhei pra frente vi uma cobra a não mais que 1 metro de distância, atravessando a estrada, deveria ter uns 2 metros. Eu levei um susto, desviei para não atropelá-la e pedalei forte. Ela ergueu a cabeça e saiu em disparada para o meio do mato. Foi um grande susto que levei, mas quem não estava no seu habitat natural naquele momento, era eu e não ela. Já era quase 6 horas da tarde, quando cheguei no vilarejo do sobradinho à 16 km de São Tomé. No vilarejo do Sobradinho tem diversas cachoeiras e grutas, é um local bastante visitado, mas eu nem vi nada, pensei em ficar por lá esta noite, mas desisti. Passei também pelo Poço da Lua, à 8 km da cidade e parei no barzinho para tomar um suco e comer um doce, pois já estava bem cansado com a pedalada de hoje e ainda encarei os últimos 3 km de subida até chegar em São Tomé, que está a 1440 metros de altura. Chegando em São Tomé me hospedei na pousada Filhos da Terra, por 10 reais a diária, com tv e banheiro no quarto. Valeu a pena, por aqui as coisas são bem baratas, isso é bom, pois assim fico vários dias aqui e não gasto muito. DIA 10/1/2005 - SÃO TOMÉ DAS LETRAS Acordei e fui tomar café em uma padaria da cidade, logo após subi pelo centro e cheguei na Pirâmide, uma casa de pedra, no ponto mais alto da cidade. É um ponto turístico bem visitado, o visual é lindo, já que se tem a vista de toda a região. Lá conheci o Junior, mais um que também esta viajando sozinho e fomos para a cachoeira da Eubiosia, uma das mais conhecidas da cidade. Ficamos lá praticamente o dia todo e para voltar tivemos a sorte de pegar carona em um caminhão, nós e mais uns 20. Foi engraçado, o caminhão parava toda hora para mais gente subir. Já no centro fomos outra vez na Pirâmide, tocar violão e ver o pôr-do-sol. Cheguei na pousada e descobri que poderia cozinhar por aqui, então fui no mercadinho e comprei algumas coisas. A noite fiquei curtindo um som e nem sai mais. DIA 11/1/2005 - SÃO TOMÉ DAS LETRAS Hoje foi mais um dia tranqüilo fiquei descansando, pois choveu muito. Subi mais uma vez na Pirâmide e vi um nevoeiro intenso. Fiz um espaguete alho e óleo, com o nózinho de queijo que comprei, uma delícia. Conheci três jovens de Americana, que chegaram aqui na pousada e fui dormir cedo, pois amanhã tem pedal. DIA 12/1/2005 - SÃO TOMÉ DAS LETRAS - BAEPENDI 47 km de pedal Sai 10:30 de São Tomé debaixo de um céu cinza. Desci 4 km de montanha, a estrada estava ruim com muitos atoleiros, devido as chuvas de ontem. Isso dificultou bastante, a bike ficou marrom de tanta lama, a corrente parecia que iria partir ao meio. Vi muitos caminhões sambando na lama. Cheguei em Baependi por volta das 4:30 da tarde e me hospedei no hotel Inha Chica, por 12 reais, com banheiro no quarto e café da manhã. Sai para conhecer a cidade e comer alguma coisa. Na volta me sentei na varanda do hotel e vi 3 ciclistas com bagagem bem menor que a minha passando pela rua. Sai gritando e para minha surpresa fui saber que eles também estavam fazendo o caminho da Estrada Real, mas desde Ouro Preto e estavam indo para Paraty. Conversamos muito e vimos os mapas. Amanhã vamos sair as 7 horas. Vou ver se eu consigo acompanhá-los, pois eles estão com bem menos bagagem e dois deles fazem triathlon, então além de mais leves, eles tem muito mais pernas que eu. andre20.jpg Los quatro amigos: da esquerda pra direita, eu, Valentim, Rogério e Fabiano DIA 13/1/2005 - BAEPENDI - GUARATINGUETA - 130 km de pedal Saímos cedo. Pegamos a estrada por volta das 7 horas rumo a Caxambu, eu e meus novos amigos, Fabiano, Valentim e Rogério. Eles realmente pedalam bem mais forte do que eu, mas mesmo assim resolvi acompanhá-los. Pedalamos por estrada de asfalto o tempo todo e desenvolvemos um bom ritmo. A estrada não tinha acostamento e passavam poucos carros, mas mesmo assim dávamos sinal com as mãos para eles se afastarem. Subimos e descemos várias serras até chegarmos a cidade de Pouso Alto. Lá despachei 4,2 kg de minha bagagem pelo correio. Resolvi fazer isso pois não estava usando muitas coisas e o pessoal me incentivou, assim ficaria mais fácil acompanhá-los, já que estava ficando para trás. Chegamos em Passa Quatro onde almoçamos. Eu não costumo almoçar mas, como desta vez eu não estava sozinho, resolvi acompanhar o grupo. Após o almoço descansamos um pouco na praça e partimos para mais uma etapa. Fomos avisados de uma grande subida. Eu sempre ficava para trás, mas os colegas me incentivavam para continuar. Paramos em um posto e eu decidi ir na frente, pois eles logo me alcançariam. Teria um atalho no fim da descida, no qual eu teria que entrar. A grande subida não veio, não era tão íngreme quanto nós pensávamos e quando achei que o “bicho iria pegar” me deparei com a placa de divisa de estado, entre MG e SP, e do outro lado uma vista maravilhosa de todo o Vale do Paraíba. Aí desci a serra que tinha uns 10 km. Foi a descida mais alucinante da minha vida. Fui a 50 km/h e passei do atalho. Cheguei na entrada de Cruzeiro e segui para Cachoeira Paulista e depois Canas. Foi ai que soube, por um senhor, que três caras de bike haviam acabado de passar por lá e um deles tinha até uma bandeirinha do Brasil na bicicleta ( o Rogério carregava uma bandeirinha em sua bike). Dai a minha ficha caiu, eu tinha passado do atalho. Acelerei mas não consegui mais alcançá-los. Segui até a cidade de Lorena, que é bem plana e uma coisa me chamou a atenção, a quantidade enorme de bikes que tinham pelas ruas. Decidi pegar um ônibus e economizar mais 12 km de pedal até Guaratinguetá. Um garoto de bike me guiou até a rodoviária. Cheguei e enfiei a bike de alforge e tudo no ônibus, paguei 2 reais pela passagem. Eu estava além de cansado, muito chateado pois havia me perdido do pessoal e na certa não os encontraria mais, pois a cidade de Guaratinguetá é bem grande. Quando cheguei na cidade fui atrás de um hotel. Fui no centro, afinal pelo que notei em toda a viagem é no centro que ficam os hotéis mais baratos. Encontrei um de nome Central e para minha surpresa, lá estavam os meus amigos novamente. A festa foi geral, pois também eles achavam que não me encontrariam, apenas o Valentin dizia: - Falei que ele ia aparecer, num falei. A noite fomos comer pizza. Todos estávamos cansados e com dores nas pernas de tanto pedalar. andre19.jpg Próximo a cidade de Passa Quatro DIA 14/1/2005 GUARATINGUETÁ - PARATY - 97 km de pedal Acordamos bem cedo e as 6:30 já estávamos na estrada. Fizemos o dia render bem. Tivemos que encarar 8 km de subida antes de chegar em Cunha. O Rogério até pedalou a minha bike e eu a dele, que estava bem mais leve. Chegamos em Cunha por volta das 11 horas da manhã e almoçamos, o que foi para mim o almoço mais chique de toda a viagem, trutas com shitak, uma delícia. Saímos logo para a que seria a etapa mais difícil de toda a viagem, cheias de subidas íngremes. Ao todo foram 25 km de subidas bem fortes. Em alguns momentos cheguei até a empurrar a bike, mesmo no asfalto. O sol se fez presente e paramos em uma bela cachoeira, ao lado da estrada, para um descanso. Foi a primeira cachoeira que os três amigos pararam por toda a viagem. Eles até entraram de baixo da queda, eu apenas fiquei sentado e molhei o cabelo, afinal aproveitei varias cachoeiras durante toda a viagem. Eu brincava com eles dizendo que não estavam fazendo cicloturismo e sim corrida contra o relógio, afinal pedalaram em 6 dias de Ouro Preto a Paraty, quase não conheceram as cidades por onde passaram. Chegavam tarde e iam embora bem cedo. Então resolvi encher o saco deles dizendo que eles faziam corrida contra o relógio, mas neste momento onde eles estavam de baixo da cachoeira eu falei : “- Estão vendo como é legal. Isso sim que é cicloturismo, parar a bike e desfrutar da natureza. Olha só como é bom, agora a gente vai ter forças para subir o resto da montanha, sem se desgastar”. Todos riam. A gente tirou algumas fotos e fomos embora. Depois de uma meia hora, chegamos enfim ao início da descida para Paraty. A tão sonhada descida. A placa “desça engrenado” era uma alegria. Já tínhamos visto algumas pela estrada, durante a viagem, mas não sei porque esta teve um gostinho especial, acho que deve ter sido porque sabiamos que depois daquela descida não viria mais subidas e sim um plano até chegar em Paraty. Tiramos mais uma foto da placa de divisa de estado entre SP e RJ e descemos para o " além”. O nevoeiro era tão forte que não se enxergava mais do que 10 metros a nossa frente. A estrada neste trecho é de terra e em condições bem ruins. Vimos poucos carros, alguma caminhonetes de luxo que encaravam com certa facilidade os buracos. Carros de passeio vimos apenas alguns, estes iam bem devagar, nossas bikes fizeram eles comerem poeira. Mesmo assim, descemos bem devagar, tínhamos que parar pois os braços não agüentavam de tanto tremer, ainda mais os meus braços, pois minha bike nem amortecedor tinha. Nos 6 kms finais o asfalto volta. Tiramos fotos da vista, pois por ali o nevoeiro não era tão forte. O céu nublado não deixou que nós víssemos muito bem a paisagem, mas valeu a pena. Terminamos de descer a serra em alta velocidade, já que o asfalto neste trecho era bom. A adrenalina foi a mil, pois além de bem íngreme as curvas eram bem fechadas. andre22.jpg Placa da divisa de estado SP e RJ andre23.jpg Cachoeira entre Cunha e Parati andre24.jpg descida para o “além” Chegamos em Paraty. Tiramos umas fotos numa placa que mostra o início da Estrada Real, mas para nós ali foi o fim. Pegamos uma ciclovia e chegamos ao início do centro histórico, onde paramos para pedir informações sobre pousadas na cidade. Muitas pessoas vieram perguntar de onde estávamos vindo, com as bikes cheias de bagagem e quando falávamos todos se admiravam. Foi aí que apareceu do nada, mais um cicloturista com uma bike toda carregada. Era um jovem com fisionomia asiática e quando fomos conversar, tivemos uma surpresa: era Shin- ichi, um japonês de 26 anos, que estava vindo de Angra dos Reis, mas que na verdade estava viajando pelo mundo. Já passou por 21 paises e entrou pelo Brasil em Roraima, vindo da Venezuela e estava fazendo toda a costa brasileira. Deu-se aí o início de mais uma grande amizade. Agora éramos em 5 cicloturistas passeando por Paraty. Fomos nos hospedar no albergue da juventude. A noite conhecemos o centro histórico e Valentin convidou eu e Shin para ir com ele e Fabiano para sua casa em Caraguatatuba, no dia seguinte e nós aceitamos. Decidi ir com o Shin até Santos, assim faríamos toda a Rio - Santos, que era uma vontade que eu tinha. Fomos dormir pois no dia seguinte mais 100 km de pedal. andre25.jpg Marco zero da estrada real andre26.jpg Placa de Boas Vindas DIA 15/1/2005 - PARATY - PRAIA DA LAGOINHA ( UBATUBA) 100 km de pedal Acordamos bem cedo, eu, Valentin, Fabiano e o Shin. O Rogério não foi com a gente ficou em Paraty esperando sua família, que viria de SP. Fizemos um pedal forte, paramos em uma cachoeira na estrada e com 3:30 já havíamos pedalado 70 km. Encontramos na estrada vários ciclistas com bike speed. Paramos em um posto para almoçar e seguimos para a Praia da Lagoinha, onde a família do Valentin estava nos esperando. Chegamos à praia depois de passarmos por varias outras. O visual da estrada é muito bonito e estava bem movimentada, com muitos carros, já que além de ser sábado fez sol o dia todo. Então, sol, mais verão, mais sábado é igual a estrada cheia de carro. Ainda bem que tem um bom acostamento, assim corremos poucos riscos. Chegamos na praia e fomos pedalando pela areia até encontrarmos a família de Valentin. Por um momento fomos o centro das atenções da praia da Lagoinha, todos nos olhavam com as bikes cheia de bagagem. Alguns não se contiveram e vieram perguntar de onde estávamos vindo. Enfim, encontramos a família de Valentin e fizemos uma grande festa com direito a cerveja e banho de mar. Desmontamos as bikes e colocamos no carro, assim economizamos 35 km de pedal até a praia Martin de Sá em Caraguatatuba. Quando chegamos na casa, fizemos um churrasco pra comemorar a nossa aventura, depois fomos dormir. Mas antes, é claro vimos muitas fotos do Shin. Ele trás em seu alforge um note book e tem uma maquina fotográfica digital, assim descarrega as fotos no computador. Vimos fotos de vários lugares do mundo, por onde Shin passou, bem legal. andre29.jpg Eu na Rio-Santos região de Ubatuba andre30.jpg Shin e eu na divisa de estado (Rio-Santos) DIA 16/1/2005 - CARAGUATATUBA Pela primeira vez acordei tarde em toda a viagem. Hoje é o meu vigésimo dia. Está sendo muito bom viajar de bike. Conheci muita gente legal, muitos lugares bonitos, cidades pacatas, outras nem tanto. Em MG encontrei um povo muito hospitaleiro e simpático. Hoje foi um dia de descanso. Fomos à praia da Caçandoca, uma praia diferente, sem casas e tinha até vaca próximo. Por um momento achei que ainda estava nas Gerais. Ficamos por lá o dia todo, foi um dia bem agradável e a noite fizemos um novo churrasco. Despedi-me de Valentim e Fabiano, que voltaram pra SP. Eu e Shin ficamos mais uma noite na casa do Valentin e amanhã vamos pedalar até a Ilha Bela. Quero ver como vai ser viajar sozinho com o Shin, pois até agora o Valentin foi o interprete, eu não sei falar inglês e o Shin não fala português, mas com certeza vai ser mais uma grande experiência, que eu vou levar para toda a vida. DIA 17/1/2005 - CARAGUATATUBA - ILHA BELA 35km de pedal Saímos por volta do meio dia de Caraguatatuba, depois de se despedir do Marcos (professor pato) e sua esposa Maria, irmã de Valentim, e de seus filhos pequenos Túlio , João e Joãozinho. Fiquei até sem graça com tanta gentileza da família do Valentim, que nos acolheu muito bem. Agora só sobrou eu e o Shin. Quero ver como vai ser nossos diálogos. Pedalamos pela ciclovia, que beira o calçadão. É muito bom pedalar por ciclovias, uma experiência que só tive aqui no litoral. O céu estava bem nublado e uma garoa fina nos pegou quando já estávamos na balsa para Ilha Bela, 2 horas depois que saímos de Caraguatatuba, pedalamos pela Rio - Santos, que estava com movimento grande em alguns trechos e não tinha muito acostamento, obrigando-nos a ficar bem no cantinho da pista. Mas a estrada neste trecho é boa de se pedalar, com varias serras pequenas. Na balsa fomos o centro das atenções, com nossas bikes carregadas. Um homem veio falar comigo e me perguntou se eu não tinha medo de assalto ou algo parecido, eu disse que não, pois não tinha nada de valor. Ele fez uma careta e eu dei risada. Chegamos e procuramos um camping, fomos até a Praia Grande de Ilha Bela e quando chegamos no camping, o que me chamou a atenção foi uma bike, que por ali estava encostada, com alforge e tudo mais. A primeira pergunta que fiz para a recepcionista do camping foi a seguinte: - Ei moça, de quem é aquela bike? ela sem entender muito respondeu: - É de um rapaz de Campinas, mas ele esta na praia do Bonete. Entramos no camping e depois de pagar a absurda quantia de 20 reais por pessoa, montamos nossas barracas. Conhecemos a praia e na volta encontramos com o dono da bike, era o Frank, um cara muito gente fina, que estava vindo de Campinas, e indo pra Ilha Grande no Rio de Janeiro. Conversamos muito e depois de jantar eu e Shin fomos dormir. andre28.jpg Shin, eu e o Frank andre32.jpg Praia Grande em Ilha Bela DIA 18/1/2005 ILHA BELA - MARESIAS - 35 km de pedal Saímos de Ilha Bela acompanhados de Frank, e na balsa encontramos um rapaz que disse ter pedalado até na Europa, mais um longo papo sobre cicloturismo. Nos despedimos de Frank, afinal ele estava indo para o lado oposto. Saímos pedalando pela Rio - Santos e pegamos uma grande serra entre as praias de Toque Toque Grande e Pequeno. Demos uma parada na praia de Paúba. A chuva era intensa e a estrada sem acostamento, em muitos trechos ficava ainda mais perigosa. Chegamos na badalada praia de Maresias e ficamos em um camping bem simples. Conhecemos a praia, que tinha muitas mulheres bonitas. Tomamos cerveja com uns hippies e fomos fazer um rango no camping. À noite demos mais uma volta pela praia e fomos dormir, já decididos em pegar um ônibus para São Paulo, e outro para Jundiaí, afinal está chovendo, é muito perigoso pedalar assim pela Rio - Santos e também devido a chuva, não estamos aproveitando muito. andre34.jpg Praia de Maresias, ponto final da viagem DIA 19/1/2005 - MARESIAS - SÃO PAULO - JUNDIAÍ ônibus Desmontamos acampamento e fomos pegar o ônibus, que passou mais de duas horas depois. Colocamos as bikes no bagageiro e mesmo com a cara feia do motorista, não tivemos maiores problemas em embarcar com elas. Na estrada pude notar a grande serra na saída de Maresias em direção a Boiçucanga. Por um momento fiquei feliz por não estar pedalando, pois o morro é grande e bem íngreme. Chegamos em SP depois de uma viagem longa e chuvosa. Pegamos outro ônibus, agora para Jundiaí. O Shin veio comigo para ficar uns dias em minha casa. Não tivemos problemas para embarcar a bike no ônibus para Jundiaí, o rapaz da empresa só falou: - Da próxima vez, vê se desmonta as bicicletas, e eu respondi:-Tá bom. Cheguei em Jundiaí e nem acreditei estar pedalando por ruas conhecidas, que tantas vezes pedalo, a única diferença era o peso da bike. Parei em um barzinho onde encontrei alguns amigos, e ninguém acreditava quando eu falava da minha viagem, e principalmente a do Shin, afinal 21 paises não é pra qualquer um. Depois de algumas cervejas, cheguei em casa e aí foi só alegria, abracei a minha mãe e liguei para todo mundo, avós, amigos e amigas. Me senti realizado por ter ficado 25 dias pelas estradas, conhecendo muitos lugares e muita gente legal. Tudo deu certo, apesar de ter pego alguns ônibus, não fiquei chateado e tirei disso mais uma lição. andre35.jpg Eu e Shin chegando no meu predio em Jundiai E quanto ao Shin, passou duas noites aqui em casa, levei ele passear por Jundiaí, que não tem nada de muito interessante, principalmente para um cara como ele que esta rodando o mundo. Aproveitamos e ficamos vendo em seu lep top as fotos dos lugares por onde ele passou. Acredite se quiser, ele tem mais de 6 mil fotos de sua viagem. Dei ainda uma última pedalada com ele, no dia em que foi pra São Paulo. Fui guiando-o até a rodovia Anhanguera e desejei-lhe boa sorte. Agora vou jogar uma pedrinha no mapa e onde ela cair, será a minha próxima viagem. AGRADECIMENTOS: Ligia Luciene (minha irmã, que me deu de presente alguns equipamentos que eu teria que usar na viagem, me emprestou seu óculos de sol e seu radinho gravador, que eu usei para ouvir músicas durante a viagem) Cleber Augusto ( amigo, que me emprestou a maquina fotográfica) Walter Magalhães (cicloturista, que me deu dicas importantes sobre a Estrada Real, antes da minha viagem) Aos cicloturistas que me acompanharam em alguns momentos da viagem Cristina, Fabiano, Frank, Rogério, Shin e Valentin. Valeu pela companhia rapaziada, e que próximas aventuras virão. E a todos que de alguma forma me ajudaram ou me fizeram companhia durante a viagem. HOSPEDAGEM Hotel Santiago - Diamantina Pousada Vila do Príncipe - Serro Hotel Bom Jesus - Conceição do Mato Dentro Pousada do Tião - Morro do Pilar Camping Ouro Fino - Itambé do Mato Dentro Camping Lagoa Guarda-Mor. Fone (31) 9645-4516 - Catas Altas Albergue da juventude Brumas Hostel. Fone (31) 3551-2944 - Ouro Preto Barzinho do Tiago - Itutinga Camping da Toca - Carrancas Pousada Filhos da Terra. Fone (35) 3237-1446 - São Tomé Das Letras Hotel Inha Shica - Baependi Hotel central - Guaratinguetá Albergue da Juventude - Paraty Casa do Valentim - Caraguatatuba Camping Canto Grande - Ilha Bela Camping (sem nome) - Maresias A MINHA BIKE Uma Giant Rincon, que eu comprei do meu amigo Cyro há uns 2 anos. A bike deve ter uns 10 anos de uso, já rodou muito, pois o Cyro também viaja de bike. A bike é simples, sem amortecedor. Tem 21 marchas e quadro de cromolibidênio. Troquei a coroa por uma menor, para as marchas ficarem mais leves, principalmente nas subidas. Foi um investimento que eu fiz que valeu a pena. Durante toda a viagem a bike não apresentou nenhum problema, apenas em alguns momentos nas estradas de terra a corrente fazia barulho, devido a quantidade de lama que se acumulou nela. Nem um pneu furou durante a viagem.